Por Psicólogo Valcrezio Revorêdo CRP 17/4661
Os transtornos de personalidade são condições psicológicas que afetam profundamente o modo como as pessoas percebem, interpretam e interagem com o mundo ao seu redor. Eles envolvem padrões duradouros de pensamento, emoções e comportamentos que são significativamente diferentes das expectativas culturais e que causam sofrimento ou prejuízo funcional na vida da pessoa. Esses transtornos geralmente começam na adolescência ou no início da vida adulta e podem persistir ao longo da vida se não forem tratados.
Quais são os transtornos de personalidade?
Os transtornos de personalidade são classificados em três grupos principais, de acordo com o DSM-5 (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais):
Grupo A: Comportamentos excêntricos ou estranhos
- Transtorno Paranoide de Personalidade: Caracteriza-se por desconfiança excessiva e suspeita dos outros, interpretando suas ações como mal-intencionadas.
- Transtorno Esquizoide de Personalidade: Envolve distanciamento emocional, pouca expressão afetiva e preferência por atividades solitárias.
- Transtorno Esquizotípico de Personalidade: Inclui desconforto em relações sociais, pensamentos e comportamentos excêntricos, e crenças incomuns.
Grupo B: Comportamentos dramáticos, emocionais ou erráticos
- Transtorno Antissocial de Personalidade: Caracteriza-se por desrespeito e violação dos direitos dos outros, impulsividade e falta de empatia.
- Transtorno Borderline de Personalidade: Envolve instabilidade emocional, medo de abandono, relações interpessoais intensas e dificuldade em regular emoções.
- Transtorno Histriônico de Personalidade: Caracteriza-se por necessidade excessiva de atenção, comportamento teatral e expressões emocionais superficiais.
- Transtorno Narcisista de Personalidade: Inclui senso grandioso de auto importância, necessidade de admiração e falta de empatia pelos outros.
Grupo C: Comportamentos ansiosos ou temerosos
- Transtorno de Personalidade Esquiva: Envolve sensibilidade extrema à crítica, sentimentos de inadequação e evitação de situações sociais.
- Transtorno de Personalidade Dependente: Caracteriza-se por necessidade excessiva de ser cuidado, medo de separação e dificuldade em tomar decisões por conta própria.
- Transtorno de Personalidade Obsessivo-Compulsiva: Inclui preocupação com ordem, perfeccionismo e controle excessivo, frequentemente às custas de flexibilidade e eficiência.
Sintomas gerais
Os sintomas podem variar de acordo com o transtorno, mas algumas características comuns incluem:
- Dificuldades persistentes nos relacionamentos interpessoais.
- Reações emocionais desproporcionais ou inadequadas.
- Padrões de pensamento rígidos e disfuncionais.
- Dificuldade em lidar com o estresse ou em se adaptar a novas situações.
- Impacto negativo na vida social, profissional ou familiar.
Etiologia (causas)
A origem dos transtornos de personalidade é multifatorial e envolve uma interação complexa de fatores:
- Genéticos: Estudos indicam que há uma predisposição genética para certos transtornos de personalidade.
- Ambientais: Experiências adversas na infância, como abuso, negligência ou trauma, podem contribuir para o desenvolvimento desses transtornos.
- Psicológicos: Padrões de apego disfuncionais, baixa autoestima e dificuldade em regular emoções também desempenham um papel.
- Culturais e sociais: Normas culturais e experiências sociais também podem influenciar a expressão de traços de personalidade.
Tratamento
Embora os transtornos de personalidade sejam considerados condições crônicas, é possível promover melhora significativa com tratamento adequado, que incluem:
- Psicoterapia: É o tratamento principal.
- Medicação: Embora não trate diretamente os transtornos de personalidade, pode ser prescrita para aliviar sintomas como ansiedade, depressão ou agressividade.
- Intervenções psicoeducacionais: Educar o paciente e sua família sobre o transtorno pode ajudar no manejo dos sintomas e na redução de estigmas.
- Suporte social: Grupos de apoio e redes sociais saudáveis são fundamentais para auxiliar na estabilidade emocional e no progresso terapêutico.
- A eficácia do tratamento aumenta quando a pessoa busca ajuda de forma ativa e está disposta a promover mudanças.
Abordagens gerais do tratamento
Embora os tratamentos sejam ajustados conforme o tipo de transtorno de personalidade, o foco geral é:
- Reduzir o sofrimento emocional.
- Ajudar a pessoa a reconhecer que suas dificuldades são originadas internamente e não apenas por fatores externos.
- Minimizar comportamentos disfuncionais e socialmente inadequados.
- Modificar traços de personalidade que geram conflitos.
O passo inicial do tratamento é aliviar o sofrimento imediato, como sintomas de ansiedade ou depressão. A redução desse sofrimento facilita o progresso terapêutico. Inicialmente, o terapeuta auxilia a pessoa a identificar as causas do desconforto e a encontrar formas de aliviá-lo. O suporte pode incluir estratégias para lidar com situações ou relacionamentos estressantes, o que é conhecido como terapia de apoio psicossocial. Essas estratégias podem envolver apoio de familiares, amigos, vizinhos, profissionais de saúde ou outras redes sociais. E como mencionado acima, medicamentos para tratar ansiedade ou depressão podem ser utilizados, preferencialmente em doses controladas e por um período limitado.
É fundamental ajudar a pessoa a perceber que seus problemas são internos, uma vez que muitos indivíduos com transtorno de personalidade podem não reconhecer que seu próprio comportamento é problemático. O profissional de saúde trabalha para ajudar a pessoa a identificar quando suas atitudes são inadequadas e como essas atitudes geram consequências negativas. Ao estabelecer uma relação de cooperação e respeito, o terapeuta pode auxiliar no aumento da autoconsciência, ajudando a pessoa a compreender seus padrões de comportamento e como eles afetam seus relacionamentos sociais. Também é enfatizado que as mudanças exigem tempo, dedicação e esforço.
Comportamentos disfuncionais, como irresponsabilidade, isolamento social, dificuldade em ser assertivo ou manifestações de raiva, devem ser tratados rapidamente para minimizar seus impactos negativos nos âmbitos pessoal e profissional. Em algumas situações, o terapeuta pode precisar estabelecer limites claros. Por exemplo, o profissional pode informar que comportamentos como gritar ou fazer ameaças comprometem o andamento das sessões. Casos extremos, como comportamento autodestrutivo ou crises frequentes, podem exigir tratamentos mais intensivos, como internação em hospital-dia ou em uma instituição especializada.
Mudanças de comportamento são particularmente importantes em pessoas com transtornos de personalidade como:
- Borderline.
- Antissocial.
- Esquiva.
Intervenções como terapia de grupo e técnicas de modificação comportamental frequentemente mostram resultados em poucos meses. Grupos de apoio e terapia familiar também podem contribuir para ajustar comportamentos inadequados. O envolvimento da família é essencial, pois seus membros podem tanto reforçar quanto reduzir comportamentos problemáticos.
A modificação de traços de personalidade problemáticos, como dependência, desconfiança, arrogância ou manipulação, tende a levar mais tempo, geralmente mais de um ano. A psicoterapia individual é uma ferramenta crucial nesse processo, ajudando a pessoa a compreender como seu transtorno de personalidade está relacionado aos desafios que enfrenta e a desenvolver formas mais saudáveis de interação e enfrentamento. Geralmente, essas mudanças ocorrem de forma gradual.
Considerações finais
Os transtornos de personalidade podem ser desafiadores, tanto para quem vive com eles quanto para aqueles ao seu redor. No entanto, com compreensão, acolhimento e intervenções apropriadas, é possível construir uma vida mais equilibrada e satisfatória. Procurar ajuda profissional é o primeiro passo para uma jornada de autoconhecimento e transformação.