Nesse texto procurei escrever um pouco sobre o sentimento de tristeza que as vezes é confundido com a depressão. Procurar análise/psicoterapia ou fazer uso de remédios são dúvidas que passam quando alguém se sente muito triste. A psi não é juíza, perita, conselheira, superior, muito menos está ali para julgar. Está como alguém que durante esse processo, escuta como é para a pessoa vivenciar aquele momento. Lembrando que no processo analítico cada um traz consigo suas experiências, conhecimentos e seus conceitos de forma única e pessoal. A depressão não se resume a lamentações, perdas, sentir-se triste ou vazio, mas também significa um lugar de transformações, cheio de riquezas, uma nova fase que pode haver colheita de potencial de vida.
A depressão pode ser um estímulo para encontrar novos caminhos, entrar em contato com o caminho interior. Muitas pessoas negam a dar esse passo a frente e acabam ficando presos ao seu passado, procurando dar continuidade a partir da primeira metade da vida. A depressão também pode ser uma chance de vida, pois induz a reconquista do tempo e reflexão sobre o objetivo da vida.
Todos nós temos nosso “momento bad”. Atualmente é possível observar que tanto os médicos quanto os pacientes confundem tristeza com depressão. Não se pode mais ficar entediado, triste, chateado porque é imediatamente visto como depressão. É mudar um sentimento normal, que todos devemos ter, claro que, deve-se investigar as condições patológicas do sujeito.
As pessoas não permitem mais sentir coisas humanas, como a tristeza. Sentem envergonhadas de estarem tristes, por exemplo, é comum ver a maioria das pessoas usarem óculos escuro no velório, esconde-se sutilmente as lágrimas porque não é “certo” demonstrar que está triste, mesmo em situações óbvias.
Já sobre a conduta médica: é a medicalização de uma situação humana, a tristeza. Quando existe a necessidade de utilizar medicamentos não há problema ao encaminhar o paciente para um trabalho com o médico paralelamente com a análise/psicoterapia.
Algumas pessoas me questionam: – não preciso ir ao analista, porque já estou tomando remédio prescrito pelo psiquiatra. A questão não é o medicamento em si, a questão é acreditar que por ocorrer uma melhora dos sintomas, os seus problemas estão resolvidos.
Muitas pessoas começam a se tratar com psiquiatras antes de buscar análise/psicoterapia. Claro que se o medicamento prescrito reagir bem e se adequar a seu corpo, após alguns dias, pode haver uma melhora significativa dos sintomas. Porém, existe grande chance dos sintomas retornarem assim que o medicamento for retirado, é essencial que a causa dos sintomas sejam trabalhados e investigados.Os medicamentos agem nos sintomas, e não na causa, como assim? – No incêndio o “fogo” são os sintomas, isto é, o que se vê e sente, mas existe algo anterior a isso, ou seja, o que causou esse incêndio? Um outro exemplo, se a pessoa está resfriada poderá utilizar medicamentos para minimizar os sintomas ou cessá-los de vez correto? Mas, algo provocou aquele resfriado. Não se fica resfriado “do nada”. Se o que provocou aquele resfriado foi a pessoa ter se molhado na chuva por algumas horas em um dia frio, e continuar tomando banho de chuva no frio e permanecendo molhado por horas, as chances de ficar resfriado novamente é grande.
A causa vem antes dos sintomas. Nada acontece do nada. Sendo assim, mesmo que esteja tomando medicamento e quer agir na raiz, na causa do conflito, deve sim procurar um psicanalista ou psicólogo. O desamparo é um estado humano, é o que ocorre nos dias atuais, é necessário encarar esse desamparo, assim como a solidão, o fracasso e o isolamento. O encontro com a felicidade não se resume apenas em coisas positivas, é também aceitar o sofrimento, as limitações, os fracassos e as incompetências. Resumindo, é normal ficar triste de vez em quando. Em análise propõe-se um espaço de escuta, poder colocar em palavras aquilo que traz angústia, é dar voz aquilo que grita dentro do sujeito. É poder se escutar e talvez entender onde dói, como dói e o que é possível fazer com isso.
Fonte: Gonçalves, Renata