Demência: Conheça os Tipos, Sintomas e Como a Avaliação Neuropsicológica Pode Transformar o Diagnóstico

Por: Psicólogo Valcrezio Revorêdo CRP-17/4661

Demência: Entenda os Diferentes Tipos e Suas Características

A demência é uma síndrome caracterizada pela perda progressiva da capacidade cognitiva, afetando a memória, o raciocínio, o comportamento e a habilidade de realizar tarefas diárias. Embora a doença de Alzheimer seja a forma mais conhecida, existem vários tipos de demência, cada um com suas próprias causas, sintomas e evolução. Nesta matéria, exploraremos os tipos mais comuns de demência, suas particularidades, a idade em que costumam se manifestar e a importância da avaliação neuropsicológica no processo diagnóstico.

A Importância da Avaliação Neuropsicológica

A avaliação neuropsicológica é um procedimento essencial no processo de diagnóstico das diferentes formas de demência. Realizada por neuropsicólogos, essa avaliação envolve uma série de testes detalhados que medem as funções cognitivas, como memória, atenção, linguagem, habilidades visuais e motoras, bem como aspectos emocionais e comportamentais.

Essa avaliação é crucial por diversos motivos:

  • Identificação Precoce e Diferenciação de Demências: Cada tipo de demência afeta diferentes áreas do cérebro, o que resulta em sintomas cognitivos distintos. A avaliação neuropsicológica ajuda a mapear essas alterações de maneira precisa, auxiliando na diferenciação entre os tipos de demência, como Alzheimer, demência vascular, demência com corpos de Lewy e demência frontotemporal.
  • Diagnóstico Complementar ao Exame Neurológico: Embora exames de imagem, como a ressonância magnética e tomografia, sejam importantes para visualizar alterações estruturais no cérebro, a avaliação neuropsicológica foca nas funções cognitivas e comportamentais, fornecendo uma visão mais detalhada sobre o impacto da doença no dia a dia do paciente. Esses resultados são fundamentais para que o médico neurologista tenha uma visão mais completa e específica do quadro clínico.
  • Planejamento do Tratamento e Reabilitação: Após a identificação precisa do tipo de demência, a avaliação neuropsicológica também orienta o plano de tratamento e reabilitação cognitiva. Isso inclui intervenções específicas para ajudar o paciente a preservar ao máximo suas habilidades cognitivas e melhorar sua qualidade de vida. Além disso, permite que a equipe médica ajuste os tratamentos de acordo com o perfil cognitivo de cada paciente.

Agora, vamos explorar os principais tipos de demência e as idades mais comuns em que costumam aparecer.

  1. Doença de Alzheimer

A doença de Alzheimer é a forma mais comum de demência, responsável por cerca de 60% a 80% dos casos. Costuma afetar pessoas com mais de 65 anos, sendo mais prevalente à medida que a idade avança, mas pode surgir precocemente, em pessoas com menos de 60 anos, o que é conhecido como Alzheimer de início precoce.

Sintomas principais:

  • Perda de memória recente.
  • Dificuldade em se lembrar de eventos e nomes.
  • Desorientação espacial e temporal.
  • Alterações de humor e comportamento.
  • Dificuldade em realizar tarefas cotidianas.

Causas:

Acredita-se que a doença de Alzheimer seja causada pelo acúmulo anormal de proteínas (beta-amiloide) no cérebro, formando placas e emaranhados que destroem as células cerebrais.

  1. Demência Vascular

A demência vascular ocorre como resultado de danos aos vasos sanguíneos que levam sangue ao cérebro, frequentemente após um acidente vascular cerebral (AVC) ou uma série de pequenos derrames. Geralmente, afeta pessoas com mais de 65 anos, embora fatores de risco como hipertensão, diabetes e colesterol elevado possam acelerar o surgimento em idades mais jovens.

Sintomas principais:

  • Dificuldades no planejamento e tomada de decisões.
  • Problemas de concentração e atenção.
  • Dificuldade em realizar tarefas que antes eram simples.
  • Lentidão nos processos de pensamento.
  • Perda de memória, embora menos proeminente que na doença de Alzheimer.

Causas:

A demência vascular está ligada a problemas de circulação sanguínea, como hipertensão, aterosclerose e diabetes, que danificam os vasos cerebrais.

  1. Demência com Corpos de Lewy (DCL)

A demência com corpos de Lewy é causada pelo acúmulo anormal de proteínas chamadas corpos de Lewy dentro das células nervosas, que afetam substancialmente as áreas do cérebro associadas ao pensamento, memória e movimento. Esse tipo de demência geralmente se manifesta em pessoas acima de 60 anos, mas também pode afetar indivíduos mais jovens em casos raros.

Sintomas principais:

  • Alucinações visuais frequentes e vívidas.
  • Tremores e rigidez, semelhantes aos sintomas da doença de Parkinson.
  • Alterações no nível de atenção e alerta, com flutuações ao longo do dia.
  • Problemas com o sono, como distúrbios comportamentais do sono REM.

Causas:

A formação de corpos de Lewy dentro das células do cérebro é a causa primária dessa condição. Esses corpos são compostos pela proteína alfa-sinucleína, que interfere na comunicação entre as células nervosas.

  1. Demência Frontotemporal (DFT)

A demência frontotemporal afeta principalmente os lobos frontal e temporal do cérebro, responsáveis pelo comportamento, personalidade, linguagem e controle emocional. Este tipo de demência tende a ocorrer em pessoas mais jovens, frequentemente entre 45 e 65 anos, embora casos em idades ainda mais baixas tenham sido relatados.

Sintomas principais:

  • Alterações drásticas na personalidade e comportamento.
  • Desinibição e comportamento inadequado em situações sociais.
  • Dificuldade de linguagem, incluindo a perda da capacidade de falar ou entender a fala.
  • Apatia e perda de motivação.
  • Compulsões alimentares ou negligência em relação à higiene pessoal.

Causas:

A DFT é causada pela degeneração das células nos lobos frontal e temporal, e pode ter origem genética em alguns casos.

  1. Demência Mista

A demência mista refere-se à presença de mais de um tipo de demência no mesmo paciente, sendo o mais comum a combinação da doença de Alzheimer e demência vascular. Geralmente, afeta pessoas com mais de 65 anos, embora as condições associadas à demência mista possam começar a se manifestar em idades mais jovens.

Sintomas principais:

Os sintomas podem variar, já que combinam características de mais de um tipo de demência. Pode haver um declínio mais rápido nas habilidades cognitivas do que se a pessoa tivesse apenas um tipo de demência.

Causas:

Geralmente, a demência mista é causada por fatores combinados, como o acúmulo de placas de Alzheimer e danos nos vasos sanguíneos.

  1. Doença de Parkinson com Demência

Pessoas que sofrem de doença de Parkinson também podem desenvolver demência em estágios avançados da doença, geralmente após os 60 anos, embora o Parkinson possa surgir em pessoas mais jovens. A demência ocorre quando o acúmulo de corpos de Lewy afeta não apenas as áreas motoras do cérebro, mas também as áreas responsáveis pela memória e cognição.

Sintomas principais:

  • Dificuldade em concentrar-se e lembrar de coisas recentes.
  • Diminuição das habilidades de raciocínio lógico.
  • Alucinações visuais e confusão mental.
  • Dificuldade para falar e engolir.

Causas:

A demência na doença de Parkinson está ligada à propagação dos corpos de Lewy pelo cérebro e pela degeneração das células nervosas.

  1. Demência Secundária

A demência secundária é causada por condições subjacentes, como infecções, deficiências nutricionais, abuso de substâncias ou lesões cerebrais traumáticas. Dependendo do tratamento da condição subjacente, a demência pode ser reversível em alguns casos. A demência secundária pode surgir em qualquer idade, dependendo da causa subjacente, como traumatismos cranianos ou deficiências nutricionais.

Causas comuns:

  • Deficiências de vitamina B12.
  • Lesões cerebrais traumáticas.
  • HIV/AIDS.
  • Doença de Huntington.

Conclusão

Embora todos os tipos de demência compartilhem o impacto devastador nas funções cognitivas, as causas, os sintomas, e a idade de acometimento variam significativamente. Mesmo que seja mais comum em pessoas idosas, alguns tipos de demência podem afetar indivíduos mais jovens. O diagnóstico precoce é essencial para planejar o tratamento e o cuidado adequado, proporcionando uma melhor qualidade de vida ao paciente e à sua família.

A avaliação neuropsicológica desempenha um papel fundamental nesse processo, auxiliando na identificação do tipo específico de demência e oferecendo informações cruciais para o médico neurologista estabelecer um plano de tratamento eficaz e personalizado. Se você ou alguém que você conhece apresenta sinais de demência, é fundamental procurar orientação médica e considerar uma avaliação neuropsicológica para um diagnóstico preciso e intervenções adequadas. Nossos neuropsicólogos estão em constante aperfeiçoamento, buscando o que tem de mais moderno na neurociência, para um diagnóstico assertivo e competente.