O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição um tanto difícil de diagnosticar.
Embora hoje exista muito material, pesquisas e informações sobre os sintomas e o seu impacto na vida das pessoas, a similaridade com outras condições pode alongar o tempo necessário para o diagnóstico.
Não raro as pessoas recebem o diagnóstico errado e passam um período de suas vidas tratando outra condição
Como não obtém o resultado desejado, as pessoas se frustram e abandonam o tratamento, bem como a vontade de descobrir o que acontece com elas.
Esse cenário causa muito sofrimento, uma vez que a gestão dos sintomas permanece ineficiente.
Essa é uma das razões para realizar uma avaliação neuropsicológica. Por se tratar de uma avaliação mais profunda, a qual investiga várias áreas da vida do avaliado, como as suas competências acadêmicas, profissionais e psicológicas, o diagnóstico é certeiro.
O que é TDAH?
O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade é um transtorno do neurodesenvolvimento que é normalmente diagnosticado na infância.
Trata-se de uma condição crônica, que acompanha o indivíduo pelo resto da vida.
Os sintomas do TDAH apresentam intensidades diferentes. Sendo assim, nem todas as pessoas que recebem esse diagnóstico são afetadas pelos sintomas da mesma forma.
Do mesmo modo, as técnicas de contenção de sintomas não são universais.
Por conta disso, é importante que a pessoa com TDAH tenha uma visão individualista para entender como o transtorno se manifesta no seu comportamento.
Os principais sintomas são a inquietação, impulsividade e desatenção. No dia a dia, eles são observados nas seguintes condutas:
Má gestão do tempo;
Perder objetos importantes, como carteira e chaves, com frequência;
Desorganizar o quarto ou ambiente de trabalho/estudo;
Pensamentos ansiosos;
Dificuldade para cumprir prazos;
Baixa autoestima; e
Insatisfação, a qual motiva a pessoa a pular de emprego a emprego, ou de graduação a graduação.
Embora os sintomas sejam normalmente notados na criança ou adolescente em fase escolar, o diagnóstico de TDAH tardio tem se tornado cada vez mais comum.
Pessoas que possuem dificuldade para estudar e sempre foram rotuladas como “preguiçosas” podem ter essa condição sem saber.
O diagnóstico do TDAH é feito pelo médico psiquiatra, psicólogo ou neuropsicólogo.
A avaliação neuropsicológica, aliás, é uma das formas de diagnóstico mais eficientes, além de conceder as respostas necessárias para as indagações do indivíduo acerca do seu próprio comportamento.
O que é avaliação neuropsicológica?
A avaliação neuropsicológica tem como objetivo identificar o estado das funções cognitivas e as condições de saúde mental que exercem influência sobre elas.
Além de ser capaz de diagnosticar condições de saúde mental, ela mapeia o impacto de lesões cerebrais no comportamento dos pacientes.
O profissional responsável pela aplicação da avaliação neuropsicológica é o neuropsicólogo.
O psicólogo graduado em psicologia pode seguir essa carreira ao realizar uma especialização em neuropsicologia, campo da psicologia que estuda a relação entre o cérebro e o comportamento.
A memória, concentração, raciocínio, capacidade de tomada de decisão e controle emocional são algumas das funções avaliadas pelo neuropsicólogo.
O diagnóstico não é o único propósito da avaliação neuropsicológica. Entre os seus objetivos estão:
- Identificar o tratamento mais adequado para a condição do indivíduo;
- Explicar ao indivíduo o porquê de certos comportamentos;
- Esclarecer familiares e cônjuges sobre questões relacionadas à conduta do paciente;
- Identificar a intensidade dos sintomas das condições;
- Acompanhar a evolução dos quadros dos pacientes; e
- Monitorar a recuperação do paciente em processo de tratamento.
Como se pode ver, esse tipo de avaliação ajuda pacientes de múltiplas formas, desde a identificação do problema até o encaminhamento e monitoramento da sua recuperação.
Como é feita a avaliação neuropsicológica?
A avaliação neuropsicológica é feita por meio de um conjunto de testes e questionamentos. A primeira consulta é voltada apenas para a exposição de queixas.
O paciente compartilha as suas dificuldades, bem como o que deseja alcançar com a avaliação.
A partir de então, o neuropsicólogo realiza uma série de questionamentos para montar o perfil do paciente. Um dos principais fatores avaliados é o histórico familiar.
Além de precisar saber o histórico de doenças da família, o profissional procura conhecer como foi a infância e adolescência do paciente para identificar tendências comportamentais durante o seu crescimento.
Os pais ou familiares próximos do paciente são chamados para responder perguntas que ele é incapaz de responder.
No caso de crianças e adolescentes, também são feitas entrevistas com professores. A percepção dos pedagogos acerca dos sintomas de desatenção e hiperatividade, capacidade de comunicação e respeito a autoridade na sala de aula é importante para compreender o comportamento escolar dos pacientes.
Neste caso, o neuropsicólogo pode visitar a escola ou requisitar o preenchimento de formulários e escalas.
Os testes voltados aos próprios pacientes têm como função examinar o funcionamento das suas funções cognitivas, levando em consideração a idade e escolaridade dos pacientes.
Todo esse processo costuma ser feito entre 4 e 10 sessões, dependendo da necessidade. Ao fim das sessões, o profissional faz a devolutiva ao paciente e/ou pais com o resultado da avaliação, recomendações de tratamento e orientações pertinentes para o seu caso.
Por que a avaliação neuropsicológica é ideal para quem tem TDAH?
Para quem tem Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, a avaliação neuropsicológica serve muitas finalidades.
É especialmente interessante que pessoas com esse diagnóstico, ou que tenham a suspeita desse diagnóstico, façam essa avaliação para conseguirem conviver bem com a sua condição.
Antes do diagnóstico
Se você suspeita que pode ter déficit de atenção e hiperatividade, ou somente déficit de atenção (TDA), pode marcar uma consulta com um neuropsicólogo para conversar sobre a possibilidade de fazer uma avaliação.
Muitas pessoas passam a vida sem entender o porquê de certos comportamentos, como a distração excessiva e a dificuldade de estudar, e de julgamentos feitos por outras pessoas, como ser chamado de preguiçoso, burro ou problemático.
Elas começam a acreditar que são isso mesmo. Afinal, como duvidar quando essa é a opinião de muitos indivíduos?
Depois de anos, descobrem que os seus comportamentos diferentes são, na verdade, sintomas de TDAH.
Receber uma resposta para os questionamentos de uma vida inteira tira um peso das costas dessas pessoas. A partir do diagnóstico, elas conseguem trabalhar ativamente para tratar os sintomas e, ainda, melhorar a sua autoestima.
Ao mesmo tempo, receber um diagnóstico de TDAH ou de outra condição pode causar tristeza e preocupação nos primeiros instantes.
São poucas as pessoas que imaginam ter uma condição que os diferencia dos demais, então a notícia pode gerar desgosto.
Entretanto, é preciso ter em mente que o diagnóstico não é uma notícia ruim, mas uma forma de facilitar a vida.
Ele permite que as pessoas busquem os recursos necessários para fazer a manutenção da sua saúde mental e felicidade. A vergonha e/ou falta de aceitação prolonga o sofrimento desnecessariamente.
Depois do diagnóstico
Ao receber o diagnóstico, pessoas com TDAH são encaminhadas para o tratamento.
Este, por sua vez, é feito pelo psicólogo e médico psiquiatra. Medicamentos psiquiátricos ajudam a conter os sintomas, enquanto a psicoterapia auxilia o paciente a conviver com os sintomas através da organização pessoal, autoconhecimento e inteligência emocional.
A avaliação neuropsicológica é capaz de pontuar as maiores dificuldades do indivíduo ao traçar o seu perfil comportamento e emocional.
Assim, ele sabe exatamente o que precisa ser trabalhado e quais recursos pode utilizar para facilitar a sua vida. Por exemplo, técnicas de gestão de tempo ou de controle de ansiedade.
Esse tipo de avaliação também identifica os pontos fortes do indivíduo, contribuindo para a melhora da vida do paciente e da sua autoestima.
Em vez de se concentrar nas suas falhas, ele passa a focar nas suas qualidades e talentos, mudando a sua visão de si mesmo.
O paciente pode retornar ao neuropsicólogo para monitorar a evolução do tratamento, confirmando, assim, a sua eficiência.
Caso seja necessário, o profissional pode recomendar a mudança do tratamento ou de hábitos que acentuam os sintomas.
A avaliação neuropsicológica é útil somente para TDAH?
Esse tipo de avaliação é igualmente benéfica para diagnosticar e orientar pacientes com as seguintes condições:
- Depressão;
- Transtorno de Espectro Autista (TEA);
- Transtorno de Ansiedade Generalizada (TAG);
- Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC);
- Transtorno do Estresse Pós-Traumático (TEPT);
- Dislexia;
- Doença de Alzheimer;
- Doença de Parkinson;
- Epilepsia; e
- Acidente Vascular Cerebral (AVC).
Se você suspeita ter alguma das condições mencionadas ou sofreu um acidente que causou traumas cerebrais, procure um neuropsicólogo.
É recomendado analisar com quais condições o profissional possui experiência para determinar se ele pode te ajudar da maneira desejada.
Fotos: Psicólogo Valcrezio Revorêdo
Fonte: Appoloni Correia, Vitória